domingo, 27 de maio de 2012

# 282

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e quando eu começo a gostar de alguém, eu não tento, de forma alguma, parecer ser quem não sou.
já fazem quase três ano e meio de terapia pra entender que gosto de mim do jeitinho exato que sou.
daí, me apresento, assim, cheio dos defeitos e qualidades que a vida me moldou. feliz, satisfeito, eu.

e de modo linear, sigo naquele relacionamento, às vezes me adaptando àquele ou àquele outro particular, desde que não exija que eu fuja muito da minha essência, paciência para isso me transborda.

o que não aceito é o abuso. abuso do respeito, da paciência, da adaptação.
abuso daquilo que é liberado pelo bem do casal.
abuso unilateral do direito de dizer não. de não querer ou poder se adaptar de acordo com a agenda do outro.
não aceito ter que me submeter, que regular a minha vida de acordo com a vontade de outrem.

 em 30 anos de existência, a vida insistiu em me mostrar que não é na base do grito, da chantagem, do apelo, que a gente consegue ficar junto de alguém. é na base da cumplicidade, que nunca, jamais, pode ser unilateral.

é comum pra mim, já no decorrer de tantas relações, de ter a importância reconhecida só a partir do momento em que se finda a relação. isso já ocorreu várias vezes, na maioria delas, aliás.

o que ficou pra mim é a certeza de que mergulhar num relacionamento, me entregar e viver tudo aquilo que me aparece à frente é legítimo. que eu devo permanecer nessa jornada, nesse entregar. por isso, não me arrependo de nada do que vivi.

só fico triste de saber que esse valor todo, essa entrega, só é reconhecida após muito abuso, muito desafio, muito cansar do meu bem querer. só é reconhecido quando a pedra já não me parece tão preciosa assim.

é difícil nesse mundo de acomodamentos, que a gente se dê conta e valorize o sentimento alheio, que a gente perceba que já é feliz. a gente quer sempre mais. e nessa busca pelo mais, a gente deixa pra trás, talvez, o que tenha sido de mais real no campo sentimental na nossa vida.

o que ocorre é que esperar cansa. que ter que ver perder pra ganhar cansa. e que ter reconhecido o que se é, depois de muita luta, cansa.

o recado que fica é, que abramos os olhos pra o que nos exalta, que brilha, e deixemos as coisas com que se preocupar com o tempo. o que importa é ser feliz, agora, nesse momento.


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