quarta-feira, 28 de abril de 2010

# 218

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ele não gostava de silêncio.
pelo menos não quando estava com muita coisa acumulada na pauta de pensamentos.
e por isso sempre andava ouvindo músicas com seus fones de ouvido.
mas ali, naquela tarde, foi impossível evitar. 
dentro do ônibus, a bateria do tocador de música acabou, e só restou o silêncio, permeado pelo barulho da estrada. 
e nessa torrente de pensamentos, ele deu por si que, por mais tempo que passasse, nunca ia superar aquele primeiro amor.
e do mesmo jeito, nunca ia superar o segundo, nem o terceiro, nem o quarto e nem o próximo.
isso porque era uma daquelas pessoas que não ia pelo conjunto da obra. ele se apaixonava era pelos detalhes, pelas miudezas de cada pessoa que passava por sua vida.
que eram essas pequenas coisas peculiares de cada um que faziam de cada paixão única, ímpar.
e sabe também que esse trem de amor passado não termina, mas que não impede os próximos amores de cheguem.
e ao perceber isso, viu aquela tempestade que o assolava fazia alguns dias, passar, e ir pra bem longe.
ele não ia superar o amor passado, logo ia aparecer é um novo pra se tornar também insuperável, que nem os anteriores.
e assim a vida ia seguir.

terça-feira, 27 de abril de 2010

# 217

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e lá estava a senhora, já com sua coluna meio encurvada, sentadinha na sala, como o faz todo dia na hora do vale a pena ver de novo.
- "não me liga na hora da minha novela que eu não te atendo". avisava pra todo mundo.
e ficava atenta na tv, misturando os personagens com os atores e atrizes, de um jeito que era uma graça quando um deles aparecia em outro programa de tv, e ela dizia "-nossa, essa mulher é ordinária demais, faz muita ruindade."
e eu só ria, ali sentado no sofá, olhando pra ela, com uma saudade adiantada, de quem não se foi ainda.

e eu tou falando da minha Vó Doca hoje, porque já tou todo morto de ciúmes.
ela vai deixar de ser só avó, e vai virar bisavó daqui a uns meses, e tá toda prosa com o primeiro bisneto.
mas eu tou é feliz.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

# 216

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e nos dias que se passaram ele ficou ali, pensativo.
e era engraçada a sua conclusão: passava mais tempo colando o coração partido tantas vezes, que curtindo ele inteiro.
é... é que quando ficava com o coração inteiro, uma sensação de melancolia ia junto com isso tudo. 
ela talvez viesse do medo de não dar certo, de tudo acabar de repente, e, por fim, a melancolia ia sempre de braço dado com a paixão.
daí não conseguira quase nunca experimentar só a explosão de sentimento bom, seguro.
e toda vez que a melancolia superava a paixão, o coração se partia.
e lá ia ele de novo colar aquele tanto de caquinhos espalhados pela vida.
só que dessa vez ele sente diferente.
talvez porque não queira, só dessa vez, juntar os cacos. talvez porque queira ficar com o coração partido por um tempo maior, pra poder evitar todo esse trabalho com cola. porque isso cansa. 
ele ainda não sabe exatamente o que quer. sabe que está se sentindo triste, carregando à tiracolo uma sacola com seus pedaços por aí.
talvez na esperança de que quem quebrou tudo volte ainda pra ajudar na colagem.
talvez.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

# 215

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e ela achou que ia ser tudo fácil dessa vez, afinal, já não tinha mais mistério.
já tinha perdido as contas de quantas vezes tentaram fazer isso funcionar, e sempre havia algum empecilho no meio.
e ela já estava cansada de ser objeto de teste, de estar sempre esperando uma aprovação, se era pra ser aceita ou não, se servia ou não, situação que vivera nos últimos anos, com gente nova que conhecia.
mas nesse caso era diferente. não havia que falar em conhecimento, já se conheciam de outras eras, não havia essa desculpa pra esperar um tempo pras coisas acontecerem. estavam prontos, um pro outro, desde outros tempos.
porém, se deparou com essa sina de "estou confuso, não sei, não sei o que fazer quanto a nós dois" outra vez.
e nessa história, que não merece espera, ela resolveu por si mesma dizer aquele adeus.
já estava cansada demais pra esperar uma decisão alheia, quanto menos uma decisão de quem já conhecia e que a conhecia tão bem.
disse o tchau, para o bem da sua auto estima, porque viver em teste, em espera de decisão é horrível pra qualquer um.
disse tchau outra vez, e saiu, com o coração rachado na mão, mas sem olhar pra trás.
que o que passou, passou.

sábado, 17 de abril de 2010

# 214

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"eu tenho que aprender num desses seriados da tv"






"O que nós não podemos é viver nossas vidas, com medo do próximo adeus, porque as
oportunidades estão aí e elas não vão parar!
O truque é reconhecer quando um adeus se torna uma coisa boa, e uma chance
de começar de novo."

( Ugly Betty - 4x11)

Vou Sentir saudades Betty!

terça-feira, 13 de abril de 2010

# 213

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a massa acabara de ferver, nos 8 minutos, que nem recomendado na embalagem, que era pra ficar 'al dente', e como já parecia saborosa, de tão bonita que tava.


mas ele não a queria assim.


então, depois de uma breve escorrida naquela vasilha cheia de buraquinhos, ele jogou o macarrão naquela frigideira amarela, e, em cima dele, derramou o azeite, num fio tão bonito que mais parecia um banho de luz.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

# 212

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e ele entra no elevador do trabalho, lá no 17º (dezessétimo, como gosta de dizer) andar, e olha pro espelho, sua visão de terno e gravata, e o rosto cansado, e começa a cantarolar baixinho "a hard day's night" dos beatles, e um sorriso que ele mesmo formou no cantinho da boca enquanto cantava lhe surpreende.

como pode, uma coisa tão simples, uma música qualquer, lembrada sem saber que seria lembrada, fez com que o dia fosse ganho.

assim, na simplicidade mesmo.

que felicidade é coisa boba, pequena, gestual, a gente é que quer fazer carnaval pra ter sorriso na cara.

domingo, 4 de abril de 2010

# 211

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uma vez o Rei, quando a gente ainda namorava, me escreveu um texto dizendo que as coisas nem sempre são ditas com a voz. que o corpo fala, que as atitudes falam, e que até o silêncio fala.

e não tem verdade maior que essa.
tem coisas que realmente não precisam ser ditas, e tem coisas que já são ditas pelo silêncio, pela ausência, que, quando a pessoa vai pra te falar isso com palavras, não se faz nada de surpresa, porque já tá ali, consolidado.

o silêncio fala mais que uma desculpa qualquer.
e tem coisa que é melhor não dita.
deixa assim, subentendido.

# 210

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"mas eu tou feliz"
"Eu, tentei evitar, liguei a  tv e deitei no sofá. Desde que haja tempo pra sonhar, e assuntos pra desenvolver, não é muito fácil desligar, me dá pena do meu chinês. Por ele eu passava o dia inteiro a meditar, bebendo chá verde ele me diz: fica feliz que vai funcionar. Mas eu tô feliz, eu juro pelo meu irmão. O saldo final de tudo foi mais positivo que mil divãs. Por isso que não adianta querer julgar, e cada um por sí, na sua própria bolha de ar. Mas o que eu penso mesmo, é encontrar alguém, que me dê carinho e beijos, e me trate como um neném. Me trate muito bem. Ah, eu só quero amor, seja como for o amor, seja bom, seja bom, seja bom, seja amor. Me faz mais feliz, me dá asas pra fluir e cantar o amor, lalarálaiarará."
|| Tiê

sexta-feira, 2 de abril de 2010

# 209

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e ele não gostava de coisas mornas.
e isso cabia tanto pra comida, quanto pra relacionamentos.
não gostava desses joguinhos que as pessoas estavam acostumadas a fazer, do tipo, "ah, se eu liguei hoje, agora é a vez do outro ligar", e nem de ter de não demonstrar seu interesse, de ter que parecer frio.
e ele gostava era de ser procurado tanto quanto procurava, de sentir interesse verdadeiro do outro lado.
mas não conseguia aturar coisas mornas, porque detestava estar em banho maria, esperando por um contato por dias e dias e dias...
e quando a relação ficava assim, morna, quase fria, já não tinha como consertar.
ninguém gosta de arroz requentado.
ele também não.
preferia aquele, quente.