quinta-feira, 22 de outubro de 2009

# 179

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- pronto, Vó, tudo resolvido! ganhei!
- então escolhe o terno, que eu vou comprar e te dar.
- não Vó, não quero um terno, não precisa.
- e o que eu vou te dar então, meu filho?
- ô Vó, não precisa me dar nada.
- não aceito.
- então tá, Vó, eu quero uma coisa sim.
- o que você quer?
- eu quero que a senhora fique forte.


nesse momento, aquela senhorinha de 81 anos, sentiu seus olhos lacrimejarem de uma emoção que não sentia a muito tempo. e se emocionou de tal maneira que a única coisa que conseguiu falar depois disso no telefone foi: "Deus te abençoe, meu neto. beijo" e desligou.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

# 178

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e há o monstro do incompreendimento.

sim, aquele que assombra as relações humanas de qualquer espécie.
pouca gente entende que não pode impor as suas verdades aos outros, e tampouco podem exigir que o outro lhe dê de volta exatamente aquilo que fornecesse.

não há como ter sucesso nesse tipo de intento, porque cada um é de um jeito.
cada pessoa consegue entregar determinadas partes de si assim, de graça, sem nada em troca, mas nunca entregando todo o seu ouro às mãos do outro.
tem sempre algo que não é dizível, que é particular.
outras não entendem isso.
tem quem pense que pelo fato de entregar todo o seu baú à outra pessoa, aquela, por obrigação, tem o dever de se entregar também.
Isso é errado. isso não existe. todo mundo tem seu segredo, todo mundo tem o que lhe é íntimo, o que é inquestionável e injustificável, por mais bobo que possa parecer.

e quem tem esse tipo de pensamento não prospera.
pessoas não são vacas, que se apertando as tetas fornecem leite, mesmo contra sua vontade.
verdades não são exigíveis.
intimidade não é exigível.
e o fato de ter algo que é íntimo, que é seu, não significa desamor, desconfiança, desgosto pelo terceiro.
não significa sequer ingratidão.
é só humanidade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

# 177

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"...a simple kind of life..."

às vezes as pessoas gostam de complicar as coisas, enxergando subtextos, entrelinhas em tudo... eu não sou assim, na verdade eu sou tão desligado que não sou muito bom em identificar indiretas... e como sou daqueles que pensam que as pessoas são boas, pra mim todo mundo é legal até me mostrar o contrário. E às vezes me sinto um perfeito idiota por pensar assim. Como um amigo disse uma vez: "De alguma forma, ser bom e compreensivo pode muitas vezes ser muito pior do que ser um filho da puta." Assino embaixo!

sou mestre em exageros, mas não consigo lidar com tempestades em copos d'água. a maioria esmagadora das coisas que eu digo se prendem às próprias palavras ditas, sem significados ocultos, sem planos infalíveis e maquiavélicos por trás delas.

eu sou daqueles que pensam que às vezes pepino é só pepino.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

# 176

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e no subterrâneo é tudo tão escuro, e eu tenho tanto medo de tudo...

e ali me vejo, estancado, parado, travado.

como faz pra alcançar aquela lanterna azul de pilha que deixei lá atrás? e seria ela suficiente pra conter essa escuridão toda?

mas eu não me vejo escuro, mesmo com o medo do tudo, eu me vejo em claridade, em luz.
eu tenho essa esperança grande que me acende, que me joga pro dia seguinte, como se ela fosse varrer o mundo deixando tudo luminoso.

mas será que é isso mesmo que quero?

será que não preciso desse medo, desse subterrâneo?

no fim das contas, eu não me enxergo no fundo, eu me vejo do alto, na beira do poço, e sorrio, enquanto disfarço minha mão com monstro de pano, e assusto aquele menino medroso que se mostra outro eu.