sábado, 30 de maio de 2009

# 158

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"... Ulisses devorador de milkshake ..."


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...e naquele barco, à procura de seu tesouro o marinheiro seguia sem pensar em mais nada, afastando inconscientemente as lembranças de um dia que passou, de uma vida deixada em stand by a partir do momento em que entrou naquele barco.

Pobre e distraído navegador. Busca o ouro, sem saber que o que tem de mais precioso ficou em terra firme. É sonhador, vive em um mundo só seu onde ouviu que pelas redondezas um homem conseguiu forjar asas com cera e voou em direção ao sol. O que não tomou conhecimento foi do fim do Ícaro voador, abatido pelo calor de seu sonho.

E lá vai o navio, nele um navegador com corpo de homem e sonhos de criança na cabeça. Na mão um milkshake de nutella. Se parasse para olhar pra trás veria Penélope distraída [forçosamente] à procura de linha e agulha. Começaria então a tecer a manta de seu Ulisses.

[...]

terça-feira, 26 de maio de 2009

# 157

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" … I was lost 'til I heard the drums then I found my way …"


como é que certas músicas têm o poder de modificar absolutamente o nosso humor, estado e astral né.

eu brinco que tenho músicas pra tudo: pra lavar banheiro, pra lavar roupa, pra fritar ovo, pra arrumar o quarto, pra lavar louça, pra descer escada, pra subir morro, andar na esteira, enfim, tudo tem música.

e nesse último domingo de manhã estava eu me aprontando pra ir pra casa da minha mãe, e nessa que tinha sido a minha manhã de ouvir trilhas sonoras misturadas, começou a tocar "you can't stop the beat", trilha de Hairspray, e num repente, todo o astral da música me contagiu e enquanto enfiava a perna por um buraco da bermuda azul, e a cabeça na gola da camisa cinza, comecei a me mexer, e nessa mexença toda acabei por me ver dançando pelo quarto com direito a deitar na cama e fazer bicicleta no ar.

e uma sensação de alegria grande invadiu e assim que acabou a música, desliguei o pc e saí de casa às gargalhadas. ninguém entende nada, mas é assim.

music is my hot sex.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

# 156

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não gosto de me sentir nocivo a ninguém.
alguns dias atrás tive uma notícia que me deixou um tanto pensativo e chateado, que alguém com quem estive envolvido no ano passado ficou bem mal quando a gente deixou de se ver, e que essa situação só agora está começando a passar.
amigos em comum vieram me dizer que a pessoa ficou deprimida, a ponto de ter que procurar médicos e etc.
não, eu não me sinto bem com isso. eu não gosto de me sentir nocivo a ninguém. e essa não é a primeira vez que isso me acontece.

claro que eu acho que ninguém passa incógnito na vida de ninguém, na verdade, eu acho que no fundo, ninguém esquece ninguém totalmente, e eu mesmo já me senti muito mal ao fim de romances, mas essa sensação de ser quem faz mal não é legal.

algumas pessoas se surpreenderam com a minha reação de pesar ao contarem o fato pra mim, acharam que eu ia gostar, rir e achar o máximo o fato do moço estar lá doído por minha causa, até porque eu carrego certa mágoa e tudo, mas não, eu fiquei pesaroso, definitivamente não gosto de fazer as pessoas sofrerem por mim.

enfim, espero que ele supere logo isso, porque já é hora de passar.

não gosto de ser nocivo. assim como não gosto que sejam nocivos a mim.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

# 155

:: "I hear in my mind all these voices"


e a Regina Spektor tem cantado na minha cabeça nos últimos dias. e eu tenho gostanto tanto!
e ela me coloca uns questionamentos, que por vezes, me deixam pensativo.
eu quase sempre tive um pé no chão em meus relacionamentos, por mais que isso não parecesse. talvez por medo, talvez por pensar que podiam terminar logo, talvez por medo de me sentir preso pra sempre, e talvez por tentar me proteger de magoar.

ah, nunca funciona. esse trem de pé no chão e cabeça nas nuvens, por mais certo e seguro que seja, é limitante demais. e eu gosto de me oferecer por inteiro, quando o mundo se satisfaz com metade, como canta o Moska em sua "seta e o alvo".

não gosto das limitações que a gente parece precisar ter quando namora alguém, torna tudo menos intenso.
mas ao mesmo tempo, agora eu percebo que o ideal é ser sereno, não limitado, mas ir devagar, sem aquela explosão toda de uma vez só, que é pra ter pequenos tracks o tempo todo.

e é isso que o Ismaël (louis garrel) pede ao intenso Erwann em Les Chansos d'amour -  "Aime-moi moins mais aime-moi longtemps". (me ame menos, mas me ame por mais tempo).

e é nisso que eu ando pensando, por mais arredio que eu possa estar em relação a esse trem de amar. por mais que pareça duro e auto suficiente, por mais traumas que eu possa carregar, no fim das contas, não passo de um patético romântico.

no fim das contas, todo mundo quer amar sem pé no chão, e uma canção de amor, que dure muito, muito tempo.

domingo, 17 de maio de 2009

# 154

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na parede, nada além de tinta. branca e cinza. mais cinza que branca, mas isso nada tem a ver comigo. quando cheguei já era assim.
e no quarto que antes era vazio, um monte de bagunça se instalou, e é essa bagunça que diariamente tento arrumar, só que parece que nunca vai acabar.
sei lá se é porque eu sou mesmo um sujeito pra lá do bagunçado mesmo, se é de karma ou essas coisas que a gente usa pra explicar o que não tem explicação, ou até mesmo só por pura e morna preguiça.

tá, uma hora isso se resolve. o quarto se arruma por 2 dias, pra depois começarem a pipocar as coisas fora do lugar de novo.
e daí? me pergunto todo dia.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

# 153

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por muito tempo ele esperava ser salvo.
salvo do quê exatamente não sabia dizer. só achava que precisava de alguém que o salvasse.
talvez essa salvação que ele tanto buscava se resumisse a uma forma de abrigo, uma cobertura temporária daquela carência gigante que o consumia.
daí buscava nos outros esse resgate.

e por muito tempo esperou ser salvo. dividiu-se com muita gente em busca disso. achava que era na paixão pelos outros que a salvação estivesse. e se apaixonava, ou achava que, e dividia-se, e quando percebia, ainda não estava salvo. estava tão perdido quanto antes, ou até um pouco mais.
mas continuava a esperar.

num dia qualquer, desses normais com sol e nuvens, parou para si mesmo, e viu que não era nos outros em que conseguiria ser salvo.
era em si mesmo. era por si mesmo. e era de si mesmo.
ele esperava ser salvo do próprio eu que o assombrava e o extasiava ao mesmo tempo.
e talvez fosse esse êxtase e esse pavor que o impelia a buscar abrigo na força da paixão dos outros.

quando parou de esperar pra ser salvo, e enfrentou o seu eu, viu que não era de salvação que precisava.
era de entrega.
entrega a si mesmo, que só assim, depois de dividir-se em vários eus, poderia dividir-se de verdade com os outros.
não há mais espera.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

# 152

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"e se eu fosse eu?".
pela terceira vez em um curto espaço de tempo eu me deparo com essa frase na minha frente, e todas as vezes ela veio da mesma fonte, direta ou indiretamente. ela veio de Clarice.

a primeira vez foi ela própria quem me soltou essa frase perturbadora em uma viagem extremamente conturbada, que me deixou em imenso sofrimento com os efeitos que ela me causou, tanto pela perturbação da própria frase, quanto pela situação em que me encontrava: sozinho, perdido, sem contato, dinheiro e nem cartão de banco numa cidade desconhecida.

foi um caos que se instalou em mim, e que durou por uns dias.

passado algum tempo, eu já me recomposto, me deparo com a mesma frase, citada pela Martha, com os devidos créditos à Clarice, e que inspirou uma de suas crônicas que eu mais gosto.

e sendo a visão de Martha um tanto mais suave que a de Clarice, e sendo o momento da minha vida também mais suave, me poupei de qualquer sorte de sofrimento grave por conta desse questionamento. e passou, sem maiores delongas.

pois bem, hoje outra vez Clarice me joga na cara e na alma a mesma frase: "e se eu fosse eu?", pela boca de Lóri, enquanto de sua aprendizagem.

e apesar de o momento não ser pesado como nos ultimos tempo, a frase me fez trazer alguns dos questionamentos que têm me sido frequentes.

eu tenho sido eu, mas tenho sido outros também. talvez aquele "eu" que me é mais querido, esteja guardado numa caixa aqui dentro, pra poupa-lo de sofrimentos e agruras, talvez, pra chegar ileso à vida quando tiver que vir à tona outra vez.

se eu fosse o eu guardado, acho que enxergaria as coisas que hoje vejo com tolerância e até preguiça com uma força sem igual. não deixaria passar as ofensas e não me contentaria com pouco.
eu acho que o eu guardado não teria tanta paciência com o mundo, e ao mesmo tempo seria doce no amar, teria um amor sem medo e sem pé atrás pra distribuir pela vida afora, e arriscaria mais.

eu tenho uma candura pelo eu guardado.
mas o eu de hoje, esse que é solto pelo mundo, não é ruim, só é contido pelas cascas das feridas a que foi submetido, por isso tenta não se mostrar frágil, quase autossuficiente.

sinto que por vezes o eu guardado consegue fugir de sua caixa e andar pelo mundo por instantes, sobretudo quando o que se trata é música, teatro e artes em geral. e ainda, com as pessoas que conseguem enxerga-lo.

se eu fosse eu, acho que seria parecido com o que sou agora, mas não sei se isso quer dizer que seria melhor.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

# 151

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cinema!
é meu vício desde sempre. vejo filmes o tempo todo, e, por muitas vezes, comparo a minha própria vida com as histórias exibidas nas telas grandes, de tantas coincidências que acontecem.

sempre prefiro as salas de cinema que ver os filmes em casa, sobretudo nas salas aconchegantes do Usina ou do Belas Artes, onde, além de ver os melhores filmes, ainda tomo um drink ou um chopp.

Os cinemas de shopping só me vêem quando a vontade de ver filmes fúteis, como as comédias românticas, ou alguns arrasa-quarteirões, até porque sou humano e preciso de uma diversão despretenciosa na vida. Mas a minha paciência pra esses cinemas de shopping, por mais que a tela seja gigante e o sistema de som seja de última geração, é pouca, porque não suporto gente conversando perto de mim durante a exibição. fico irritado de verdade e peço: "você poderia fazer silêncio por favor?", o que não adianta muito com adolescentes, convenhamos.

na última semana visitei os meus dois cinemas favoritos onde assisti dois filmes que vale a pena indicar: Divã, brasileiro com a Lília Cabral, que por mais preconceito que se possa ter com filmes com atores globais (o que não tenho, diga-se de passagem), merece ser visto pelo ótimo texto, inspirado na obra da Martha Medeiros, e as interpretações ótimas. saí pensativo do cinema.

E o outro foi o "La Belle personne", ou "A bela Junie", como ficou o título nacional, o filme mais recente do Christophe Honorè, meu diretor francês atual preferido. O filme é ótimo, e saí do cinema com uma sensação de triste. Vale a pena assistir tb, e depois  garimpar o resto da obra do moço, dos quais se destacam "Em Paris" e "Canções de amor", meu filme preferido atualmente.

cinema é assim: a gente assiste filme tentando encaixar seus pedaços em nossas vidas, buscando um final feliz ou até mesmo só um momento de canção.

e assim seguimos nesse show de truman.