sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

# 6

good night moon


subindo a rua eu vi uma sombra.. medo. o que fazer?
tenho medo de vultos, aliás, tenho medo de um monte de coisas, mas a impressão de que há algo ali e a gente não consegue simplesmente enxergar é a pior.

me ri e lembrei da canção da Shivaree

"What should I do I'm just a little baby
What if the lights go out
And maybe and then the wind just starts to moan
Outside the door he followed me home"


impressões:

1. corri. corri bastante pra que o que seja lá o que for não me alcançasse.. apesar de que se fosse alguma assombração poderia aparecer na minha frente.

2. fechei os olhos bem aperatados quando minha respiração não me deixou mais correr. preferia não ver o que estava ali.

3. cantei. cantei a primeira música que me veio à cabeça pra que eu não pudesse escutar os barulhos do que me espreitava. pena que a música foi: "vou de táxi" e eu sem um tostão pra pegar um.

4. chegando no primeiro lugar habitado - por seres humanos - eu me sentei e disparei a rir. ninguém ao redor deve ter entendido nada, mas só ali, no meio de gente que eu, o que sente medo, me senti seguro e pude rir do papel bobo que tinha acabado de fazer...

é... em certos casos "i'm just a little baby" mesmo.

Good night moon, mas sem uivos.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

# 5

das ruas e das rosas



e tava lá, no meio do asfalto, ainda intacta, aquela rosa vermelha.
daí me passaram pela cabeça milhões de hipoteses para como ela foi parar ali, desde a namorada que ganhou do namorado, brigou e jogou fora, até a que caiu do carro que leva defuntos.

e me lembrei que nunca gostei de flores arrancadas da terra. antes de arrancadas, ela eram plantas, vida. depois, viram flores, rosas. mortas. duram bonitas por 2 ou três dias.. mais até se colocadas no gelo, mas depois secam e viram adubo.

e isso é triste. arracancam com a flor a possibilidade de uma semente.. praticamente um aborto.

daí imagino.. pra que arrancar uma planta do pé, se é pra deixa-la ali, jogada no asfalto?

a rua é fria e seca, apesar de que ontem choveu. e não combina o cinza do asfalto com o vermelho daquela rosa.

antes de ir, apanhei-a do chão. não queria que um carro a despedaçasse. coloquei-a deitada num canteiro, fiz uma oração e continuei descendo a rua, com o guarda-chuva grande na mão.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

# 4

dos temposde divagar


deixar o tempo passar é complicado. ele não passa sozinho. e eu não sou de esperar, nasci do vento e da agitação. sou um ser em movimento.

não consigo simplesmente me sentar e esperar o tempo passar. as coisas acontecem oras! o mundo não pára pra mim. ele não me espera ficar legal pra poder voltar a se movimentar.

e essa coisa de que o tempo cura tudo eu acho que é meio balela.. tem coisas que simplesmente não acabam. e outras que recomeçam. e tem machucados que não saram..
não vou ficar aqui sentado. não vou viver de esperas, não vou me desperdiçar pensando nos erros e nas frustrações. vou botar minha fantasia e sair à rua cantando qualquer coisa e vivendo dias que são meus.

eu nasci do vento. e pro vento vou mandar todas as coisas que me perturbam e tornarei a nascer dele porque assim é que deve ser.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

# 3

:: vamos passear de guarda-chuva



e depois de deixar de ser amarelo pra ser moreno nos 37 graus de sol do Rio, BH me recebe com chuvas.

daí, ficar quietinho dentro de casa é uma maneira boa de evitar que a barra da minha calça se molhe, mas tem horas..

se bem que ando simpatizando com a chuva, caminhar com aqueles pingos caindo no meu rosto e nas minhas costas tem sido uma coisa gostosa, claro, se não tiver nenhum documento ou celular em meus bolsos.

de vez em quando eu saio por aí com aquele guarda-chuva gigante, um trombolho mesmo, fico parecendo o Pinguim do Batman, mas tirando a dificuldade de levar aquele guarda-chuvão dentro do ônibus sem cutucar ninguém, ele é uma boa companhia. me cobre inteiro, e nos dias de sorte, até a barra da minha calça sai ilesa, mas leia-se bem: nos dias de sorte, raros.

mas tudo bem.

hoje estava com esse guarda-chuva na mão, mas na hora de descer a rua, me deu vontade de me molhar. o levei fechado como se bengala fosse, e segui meu caminho às 22:52, pela Rua João Pinheiro, cantando músicas de chuva - "... espero a chuva cair na minha casa, no meu rosto, nas minhas costas largas ..." entre outras - e me deixando envolver pela dança dos pingos que trombavam em mim.

claro que cheguei ao ponto de ônibus completamente molhado, mas não teve problema, estava literalmente com a alma lavada.

o passeio com o guarda-chuva nesse caso foi só pra ter uma companhia, e quem sabe, uma arma contra os mal-feitores.. rs

enfim, guarda-chuva na mão, chuva na cabeça.
não teve coisa mais gostosa!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

# 2

:: viver é melhor que sonhar



só sei que em matéria de criar castelos de areia eu sou mestre.
crio vários ao mesmo tempo, e crio com gosto porque no meu mundo de pré-meia idade eu acabo me perdendo das ondas. acontece que as ondas não se perdem de mim, e quando já nem me lembrava de sua existência vêm, impiedosamente, e destroem meus castelos, os tornando areia pura novamente.

no meu mundo das idéias também faço assim.. tenho a tendência a criar idealizações quase perfeitas - porque ainda tento guardar um pouco de imperfeição na esperança de ser real - e quando penso que vai tudo acontecer daquele jeito bonito que imaginei, só ganho a companhia da frustração.

e a culpa é minha por insistir com meu jeito tolo em crer que coisas e pessoas podem mudar com facilidade e que o que não deu certo antes pode vir a se acertar pouco depois. tsc tsc.. e novamente meus castelos se tornam areia e novamente lá estou eu, feito criança ressentida sentado na beira da praia e vendo a onda levar o que eu construí com esmero.

a diferença nos tempos de hoje é que, como muitos dos meus sonhos já se frustram e muitos dos meus castelos já se foram, eu andei a criar uma casca que me permite apenas poucos momentos de tristeza pelos sonhos idos. pouco depois lá estou novamente, com as mãos na praia, juntando tiquinho por tiquinho de areia e sonhando em construir o maior castelo do mundo.

e maior não por ostentação ou futilidade, mas tem que ser o maior pra poder caber meus sonhos.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

# 1

:: De quando eu vivi uma música


mais que uma loucura, minha viagem para o Rio de Janeiro na última semana foi uma fuga e uma busca.

buscava conforto e momentos bons, paciência e paz. sentimentos que estavam em falta aqui em BH nessa minha vidinha pão com salame.

e lá tive momentos ótimos e como tive.

uma recuperação de momentos e emoções antigas de uma forma singela, apenas sentidas de longe e em espírito, uma vivência nova, e uma quantidade de cheiro de mar que não se pode imaginar.

andando com o Rei pelas ruas da cidade que constatei ser realmente maravilhosa, apesar da violência tão fortemente noticiada, vivi músicas que só nós conhecíamos.
entendi "Inverno" de Adriana Calcanhotto, quando caminhei ao longo do canal do Leblon, quando vi a paz que lá inspira, e lá, naquele mesmo canal, entendi a frase "pra que amendoeiras pelas ruas, para que servem as ruas?"... com certeza foi ali que ela viu as tais amendoeiras.

E o mar me encantou como sempre, me fazendo mergulhar todas as vezes que o via. e voltava a tornar-me criança catando conchas e brincando na areia. e voltava a ser poeta, recitando poesias perdidas para as ondas. e voltava a ser sentimento, cantando músicas enquanto caminhava pela areia.

e segui as pegadas de outros que não vi deixadas à beira mar. e olhei ao meu redor pra ver as expressões das pessoas, e vi o sol lá do arpoador.

enchi-me de emoções mergulhado nas ondas e não sei se foram lágrimas ou apenas a água salgada do mar que escorria do meu rosto. mas caberia ambas naquele momento, em que tanta vida me invadial.

e vi que o Rio não é só praia.

e senti o cheiro de mar, mas mais que isso, senti o cheiro de vida.